A inflação é um dos fenômenos econômicos mais relevantes e impactantes para o dia a dia da população, afetando diretamente o poder de compra, os preços dos produtos e serviços, os investimentos e a política econômica dos países. De forma simples, a inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços em uma economia durante determinado período. Isso significa que, com o passar do tempo, o dinheiro perde valor e o consumidor consegue comprar menos com a mesma quantia.
Como a inflação é medida?
No Brasil, o principal índice utilizado para medir a inflação é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. Ele avalia a variação dos preços de uma cesta de bens e serviços consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos, abrangendo áreas como alimentação, habitação, transporte, saúde, educação, entre outros.
Outros índices também existem, como:
- INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor): semelhante ao IPCA, mas voltado para famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos.
- IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado): usado, por exemplo, para reajustes de contratos de aluguel.
Causas da inflação
A inflação pode surgir por diferentes motivos, e entender suas causas é fundamental para combatê-la de forma eficaz. Entre as principais causas, destacam-se:
1. Inflação de Demanda
A inflação de demanda ocorre quando a procura por bens e serviços supera a capacidade de oferta da economia. Esse desequilíbrio pressiona os preços para cima, pois os consumidores competem por uma quantidade limitada de produtos. Fatores como aumento da renda, expansão do crédito e políticas de estímulo fiscal podem intensificar essa demanda. No Brasil, programas de transferência de renda e reajustes salariais acima da produtividade podem contribuir para esse tipo de inflação.
2. Inflação de Custos
A inflação de custos, ou de oferta, surge quando há aumento nos custos de produção, como matérias-primas, energia e salários. Empresas repassam esses custos aos preços finais para manter suas margens de lucro. Eventos como choques cambiais, elevação nos preços internacionais de commodities e aumentos salariais não acompanhados de ganhos de produtividade são exemplos de fatores que podem desencadear esse tipo de inflação.
3. Inflação Inercial
A inflação inercial está relacionada à persistência da inflação passada nas expectativas futuras. Em ambientes de inflação crônica, agentes econômicos ajustam preços e salários com base na inflação anterior, perpetuando o ciclo inflacionário. Esse comportamento pode ser observado em contratos com cláusulas de reajuste automático, como aluguéis e salários, dificultando a redução da inflação sem medidas econômicas mais drásticas.
4. Emissão de Moeda
A emissão excessiva de moeda pelo governo, sem correspondente aumento na produção de bens e serviços, pode levar à inflação. Quando há mais dinheiro em circulação, mas a oferta de produtos permanece constante, os preços tendem a subir. Historicamente, políticas de financiamento de déficits públicos por meio da emissão monetária têm sido associadas a episódios de alta inflação.
5. Dívida Pública e Externa
O endividamento público elevado pode afetar a inflação de diversas maneiras. Para financiar déficits, o governo pode recorrer à emissão de moeda ou ao aumento de impostos, ambos com potencial inflacionário. Além disso, a percepção de risco fiscal elevado pode desvalorizar a moeda nacional, encarecendo importações e pressionando os preços internos. No caso da dívida externa, flutuações cambiais podem impactar o custo de bens importados, influenciando a inflação.
6. Políticas de Importação
Decisões governamentais que alteram tarifas de importação podem afetar a inflação. Por exemplo, o aumento das alíquotas de importação sobre produtos de ferro e aço para 25%, implementado pelo governo brasileiro, visa proteger a indústria nacional, mas pode elevar os custos de produção em setores que dependem desses insumos, resultando em preços mais altos para o consumidor final.
7. Oferta Interna e Capacidade Produtiva
A capacidade produtiva da economia influencia diretamente a inflação. Se a produção de bens e serviços não acompanha o crescimento da demanda, ocorre escassez, pressionando os preços. Investimentos em infraestrutura, tecnologia e capital humano são essenciais para expandir a oferta e conter pressões inflacionárias de longo prazo.
8. Decisões Governamentais Recentes
Algumas políticas recentes do governo brasileiro têm impacto direto na inflação:
- Reajuste do Salário Mínimo: A política de valorização do salário mínimo, que considera a inflação passada e o crescimento do PIB, pode aumentar os custos para empresas, especialmente em setores intensivos em mão de obra, repassando esses custos aos preços finais.
- Aumento de Tarifas de Importação: Como mencionado, o aumento de tarifas sobre produtos importados pode proteger a indústria local, mas também encarece insumos e produtos finais, contribuindo para a inflação.
- Gastos Públicos: Expansões fiscais sem contrapartida em receitas podem elevar a demanda agregada, pressionando os preços. Além disso, a percepção de desequilíbrio fiscal pode afetar expectativas inflacionárias e a confiança dos investidores.
Em resumo, a inflação é resultado de uma combinação de fatores relacionados à demanda, custos, expectativas e políticas econômicas. O controle eficaz da inflação requer uma abordagem abrangente, envolvendo políticas monetárias, fiscais e estruturais coordenadas para equilibrar oferta e demanda, manter a credibilidade fiscal e ancorar as expectativas dos agentes econômicos.
- Perda do poder de compra: com preços mais altos, o salário “vale menos”.
- Desigualdade social: famílias de baixa renda sofrem mais, pois gastam maior parte da renda com itens básicos.
- Insegurança econômica: dificulta o planejamento financeiro de famílias e empresas.
- Desestímulo ao investimento e à poupança: com incertezas, os agentes econômicos ficam mais cautelosos.
- Correção de contratos e salários: muitos contratos incluem cláusulas de reajuste com base nos índices de inflação.
Variações da inflação: hiperinflação, deflação e desinflação
- Hiperinflação: é uma inflação fora de controle, com aumentos de preços extremamente altos e frequentes. O Brasil enfrentou isso na década de 1980, com inflação chegando a mais de 2.000% ao ano.
- Deflação: é o contrário da inflação — uma queda generalizada nos preços. Apesar de parecer positivo, pode sinalizar recessão e redução da atividade econômica.
- Desinflação: é a desaceleração do ritmo da inflação. Os preços ainda sobem, mas em um ritmo menor.
Estudo de caso:
Episódio inflacionário na Argentina e desafios
Descontrole Inflacionário Pré-2023
Antes da posse do presidente Javier Milei em dezembro de 2023, a Argentina enfrentava uma inflação anual de 211,4%, com picos mensais de até 25,5%. Esse cenário foi resultado de políticas fiscais expansionistas, controle de preços e emissão monetária excessiva. A economia estava em recessão, e a confiança dos investidores era baixa.
Medidas de Austeridade e Reformas Econômicas
Ao assumir o cargo, Milei implementou um programa de austeridade fiscal rigoroso, conhecido como “Plano Motosserra”, que incluiu:
(Argentina encerra 2024 com inflação de 117,8%, marcando desaceleração sob governo Milei | BRADO JORNAL)
- Corte de 30% nos gastos públicos, incluindo redução de subsídios e fechamento de ministérios.
- Eliminação de controles cambiais e adoção de um sistema de bandas cambiais flexíveis.
(Argentina, una semana bajo el paraguas del FMI) - Redução de impostos em até 90% e devolução de autonomia tributária às províncias.
(Milei prosigue su cruzada a favor del Estado mínimo) - Acordo com o FMI para um empréstimo de US$ 20 bilhões, visando reforçar as reservas internacionais.
Essas medidas visavam estabilizar a economia, conter a inflação e restaurar a confiança dos mercados.
Resultados Econômicos em 2024
As reformas de Milei resultaram em uma desaceleração significativa da inflação: (Argentina, una semana bajo el paraguas del FMI)
- A inflação mensal caiu de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,4% em novembro de 2024.
(Milei leva inflação da Argentina de 25,5% a 2,4% – 11/12/2024 – Mercado – Folha) - A inflação anual encerrou 2024 em 117,8%, uma redução de quase 94 pontos percentuais em relação ao ano anterior.
(Inflação anual na Argentina encerra 2024 em 117,8% após queda de 94 pontos)
Então as medidas de austeridade levaram a um aumento da pobreza?
A Pobreza no Contexto da Nova Política
Durante esse processo de ajuste:
- Houve retração do consumo — o que era esperado, já que o crédito e o gasto público foram restringidos.
- O índice de pobreza permaneceu muito elevado, chegando a 53% da população.
- Muitos analistas apontaram o “custo social” das medidas de Milei.
No entanto, é incorreto afirmar que as reformas causaram o aumento da pobreza.
Por quê?
- Com a inflação de 211,4%, a pobreza já estava subindo descontroladamente.
- Se a inflação continuasse nesse ritmo, o empobrecimento teria sido ainda mais brutal e rápido.
- A hiperinflação elimina completamente o poder de compra, gera desabastecimento e provoca crises humanitárias (como vimos na Venezuela ou no Zimbábue).
Assim, o que Milei fez foi, na prática, estancar a hemorragia inflacionária — mesmo que isso tenha exigido sacrifícios duros no curto prazo.
Em termos técnicos, a escolha era entre:
- Deixar a hiperinflação correr solta, levando à miséria em poucos meses,
ou - Implementar ajustes imediatos, contendo a inflação e criando condições futuras para crescimento.
Milei optou pelo segundo caminho.
O Impacto Esperado no Médio e Longo Prazo
Agora que a inflação está sendo controlada:
- O ambiente de previsibilidade econômica volta a se formar.
- As taxas de juros reais podem ser reduzidas no futuro, estimulando investimentos.
- Empresas começam a recuperar a confiança e planejar expansão.
- A capacidade do governo de captar recursos externos melhora.
Com isso, a tendência — se as reformas forem mantidas — é que:
- O crescimento econômico seja retomado;
- O emprego aumente;
- E, consequentemente, a pobreza comece a diminuir de forma sustentável.
Esse é o caminho natural de toda estabilização monetária: primeiro vem a dor do ajuste, depois a colheita dos frutos.
Comparativo: O que teria acontecido sem reformas?
Sem as reformas de 2023/2024:
- A inflação poderia ter ultrapassado 500% ao ano em 2025.
- O peso argentino teria entrado em colapso total.
- Salários e aposentadorias se tornariam quase inúteis.
- Investimentos sumiriam, e a economia passaria a operar no chamado “escambo forçado” (trocando mercadorias básicas).
- O país caminharia para um cenário de caos econômico e social irreversível.
Portanto, a austeridade não é a causa da pobreza: ela é uma tentativa dolorosa, porém necessária, de impedir a destruição total da sociedade argentina.
Conclusão
O caso argentino recente mostra de forma clara que, em situações de descontrole inflacionário extremo, as políticas duras de contenção são essenciais para preservar a estrutura mínima da economia.
Embora o custo social seja inevitável no curto prazo, a estabilização é o único caminho para a reconstrução da prosperidade.
Ignorar esse fato é fazer uma análise incompleta e, muitas vezes, ideológica.
Entender que controle da inflação é, no fundo, proteção dos mais pobres é essencial para qualquer debate sério sobre políticas públicas.
Controle da inflação
No Brasil, o controle da inflação é responsabilidade do Banco Central, que utiliza principalmente a política monetária para esse fim. A principal ferramenta é a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia. Quando a inflação está alta, o Banco Central tende a elevar a Selic para encarecer o crédito e desestimular o consumo. Quando está baixa, reduz os juros para estimular a economia.
Além disso, políticas fiscais, como controle de gastos públicos, e medidas estruturais também são importantes para manter a inflação sob controle de forma sustentável.
A inflação é um fenômeno complexo, mas crucial para entender o funcionamento da economia. Suas variações impactam profundamente o cotidiano da população, os mercados e a política econômica. Monitorar, compreender e controlar a inflação são tarefas essenciais para garantir a estabilidade econômica, a confiança dos investidores e o bem-estar da sociedade como um todo.